Um papo sério sobre comunicação sustentável
Por Julianna Antunes
30/06/2010
No artigo que escrevi sobre marketing sustentável, recebi críticas
porque (acredito eu) antes de ler, as pessoas imaginavam que iria falar
sobre o que é realmente feito nos dias de hoje: o marketing clássico
promovendo produtos sustentáveis. Neste caso, o produto é mero
instrumento. Poderia ser artigos esportivos, por exemplo, que a forma de
se usar o marketing seria a mesma.
Marketing sustentável é bem diferente do marketing clássico. Uma das
grandes diferenças passa pela maneira de se comunicar. E é justamente em
relação a isso que a luz vermelha se acende quando falamos de empresas
brasileiras. Uma pesquisa realizada pela Marketing Analysis aponta que
em levantamento com 501 produtos comercializados no país,
impressionantes 90% deles não entregam o que prometem nos rótulos.
Um mito que povoa a mente dos consumidores é que para uma empresa ser
sustentável, ela tem de comercializar produtos sustentáveis. Não
necessariamente. É bom? É. Mas quando falamos de sustentabilidade
corporativa, o que realmente deve interessar são os processos de negócio
de uma empresa em alinhamento com os conceitos de sustentabilidade.
De acordo com a pesquisa, os produtos analisados eram de 11 categorias e
seguiam metodologia da empresa canadense TerraChoice. A Marketing
Analysis analisou sete tipos de problemas: custo ambiental camuflado,
falta de provas, incerteza, culto a falsos rótulos, irrelevância, “menos
pior” e mentira. Agora pensemos: o que seria isso, senão o já manjado
greenwashing, não é mesmo?
O estudo mostra que o brasileiro vem sinalizando maior preocupação com a
ssustentabilidade nas empresas e a propaganda é um forte instrumento
para essa postura. No entanto, uma informação preocupante é que a
qualidade do conteúdo pouco reflete compromissos tangíveis e
transparentes. Apenas 20% mostram de fato resultados obtidos com suas
ações e o investimento realizado.
O grande problema dos abusos que acontecem no Brasil é que aqui não há
um órgão que regule a comunicação voltada para a sustentabilidade nas
embalagens, apesar de existir uma certificação que trate disso, a ISO
14021 (padronização de rotulagem ambiental aplicada às embalagens).
Assim, mesmo que a ABRE (Associação Brasileira de Embalagem) tenha
lançado uma cartilha para o consumidor com diretrizes baseadas na ISO,
as empresas estão livres para comunicar o que quiserem da forma que
quiserem.
Trazendo para a prática um pouco da pesquisa, o que acontece no mundo da
comunicação de produtos sustentáveis é algo mais ou menos assim: uma
empresa utiliza uma embalagem sustentável, se posiciona como tal por
isso, mas esconde que a própria produção do produto é danosa ao meio
ambiente. Ou então diz que o produto não é testado em animais ou é
ecoeficiente e não apresenta qualquer certificação disso. Ou então
aquela linda frase: empresa amiga do meio ambiente. Ok, mas o que ela
faz de bom para ser amiga dele?
A comunicação de muitos produtos é tendenciosa e as empresas se
aproveitam não apenas da boa vontade do consumidor, como,
principalmente, da falta de conhecimento dele. Por exemplo: produtos que
informam que são livres do CFC (clorofluorcarboneto), bastante
prejudicial à camada de ozônio. Acontece que essa substância já está
banida por lei há muito tempo. Um consumidor leigo pode utilizar esse
critério como decisão de compra.
O complicado de toda história, é que reconhecer produtos que fazem
prática do greenwashing requer tempo. É preciso que o consumidor em
alguns casos tenha conhecimento do assunto e leia com atenção a
embalagem, o que muitas vezes não acontece na correria do dia a dia.
Muitas empresas se aproveitam da boa fé das pessoas em querer fazer o
que é certo para se dar bem em cima delas. Meu pedido: puna essas
empresas, não apenas deixando de consumir seus produtos, como também
disseminando as informações para seus amigos, colegas, famílias. Utilize
as mídias sociais; o poder dela é absurdo.
Julianna Antunes é Jornalista, corredora de alto rendimento físico e
baixo rendimento financeiro, pós-graduada em responsabilidade social
empresarial e diretora da Agência de Sustentabilidade, consultoria
estratégica de elaboração e implementação de projetos de
sustentabilidade. E-mail para contato:
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