Percepções, Valores e Princípios Individuais /Organizacionais
Por Luciana Horta
08/04/2007
Fazendo uma analogia do programa Big Brother com as organizações
fico pensando... Existe alguma relação deste “Jogo” com os “Jogos”
vividos nas empresas quanto às percepções individuais?
Em um processo de recrutamento e seleção qual a importância da
percepção do condutor do processo? Qual a importância da postura dos
candidatos?
O condutor, seja ele psicólogo ou não, não está atrás dos espelhos
do cotidiano da vida dos candidatos para conhecê-los ao ponto de
garantir um processo de seleção 100% seguro. Ao contrário, ele
conhece o que é apresentado em alguns minutos, o que muitas vezes
pode não ser o real. E mais: ele, condutor, psicólogo ou não, está à
mercê de suas percepções individuais. Ou seja, ele está sujeito às
contaminações de sua percepção. Podemos chamar isto de erro
fundamental de atribuição. A tomada de decisão em um processo de
seleção precisa ser mais racional, adicionando-se é claro, a
intuição, que na verdade funciona como complemento deste método
racional para tomada de decisões.
Já os candidatos, muitas vezes “treinados” para àquela situação de
concorrer para uma oportunidade no mercado, “vendem” o que não são
na sua essência. E onde isso vai dar? A resposta é lógica:
incoerência entre expectativas organizacionais e candidato
selecionado.
Indo mais adiante um pouco... Até quando um candidato “treinado”
para processos de seleção consegue manter a postura que foi ensinada
como adequada na situação da seleção? A resposta também é lógica:
muito pouco tempo, ou seja, até quando conseguir manter o esforço
emocional para ser o que não é de verdade.
Nunca podemos esquecer que é possível enganar a alguém por toda a
vida, é possível enganar a muitos por muito tempo, mas não é
possível enganar a todos por todo o tempo.
Com certeza, este Gap – tempo exposto do profissional ao que não lhe
é satisfatório, não vai gerar produtividade em suas ações e, muito
menos ainda para as organizações. Conseqüência: profissional
insatisfeito, que vai procurar seu “ninho” em outro lugar e, aumento
da rotatividade de pessoas, o que gera custo para as empresas.
Algumas conclusões podem ser tiradas: é indispensável o treinamento
do condutor de processos seletivos, seja ele psicólogo ou não e,
especialmente quanto aos candidatos, que sejam eles próprios, nunca
perdendo de vista sua autenticidade, seus valores e o que o
satisfazem de verdade! De novo é fundamental lembrar que não é
possível viver na infelicidade: nenhuma das partes envolvidas
(empresa/empregado). Assim, ou se faz o que nos faz feliz, o que se
gosta de fazer ou, de outro modo se passa a ser feliz fazendo o que
deve ser feito, se passa a gostar do que se faz. Outra alternativa
não há a menos que procurar outros "ninhos".
Manter coerência entre seus valores e suas atitudes, com seus
princípios morais e éticos é um bom trabalho para se manter feliz no
trabalho. E, quando isso acontece, não tem como errar, porque não
existe estratégia ou treinamento para vencer! Tudo é uma
conseqüência dos espelhos individuais, que acompanham todos a todo
tempo. É uma questão de personalidade!
Numa organização, as pessoas estão sempre julgando umas as outras.
As chefias precisam avaliar seus subordinados, os pares se comparam
quanto à dedicação e competência e por aí vai. Só que quando estes
julgamentos são feitos, tende-se a simplificar esta tarefa, buscando
torná-la mais facilmente administrável. Outro prejuízo para as
organizações e para os profissionais! Isto porque, simplificações de
julgamento como estereotipagem, projeção e/ou efeito de halo, podem
levar a distorções quanto ao desempenho dos profissionais, como
diminuição do aproveitamento dos talentos humanos – profissional
competente em área ou atividade não coerente à sua capacitação,
diminuição da retenção destes talentos - não motivação dos mesmos
nas atividades executadas, conflitos internos – por erro de
atribuições e, aos termos tão falados e pouco trabalhados nas
organizações: alto índice de absenteísmo e alta rotatividade.
Destaca-se que, segundo Pichón Riviere, a avaliação preliminar e
rasteira é geralmente carregada de memórias da vida de cada um, de
cenários individuais projetados em terceiros, na verdade projetando
nos outros suas próprias experiências e vivências. Como Dante
Alighieri bem mostrou que "o inferno está nos outros", a chance de
erros grotescos nestas avaliações são bastante significativas.
Concluindo: não somos expectadores das organizações como somos do
Big Brother! Ao contrário, somos os personagens deste “Jogo” e, como
tais, estamos todos sujeitos aos julgamentos muitas vezes errôneos!
Isto é real!
Luciana Horta é Psicóloga, Especialista em Gestão de Pessoas (RH) e
em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas, Mestranda em
Administração e Professora Universitária. E-mail:
hortaluciana@yahoo.com.br