Mosqueteiros Corporativos
Por Paulo Angelim
11/09/2003
Com certeza, se os Três Mosqueteiros e d'Artagnan fossem reais e
estivessem vivos, estariam morrendo de ganhar dinheiro com
palestras. E a razão é simples. Falta às empresas a principal
competência dos quatro: A concorrência. Parece estranho, mas é isso
mesmo. Ainda não surgiu um time que melhor apresente o verdadeiro
significado de concorrer do que os quatro espadachins de Alexandre
Dumas. Vamos, então, ao real significado.
Observando a etimologia de cooperar (com + operari) e colaborar (com
+ laborare), encontramos que estas palavras significam agir ou
trabalhar conjuntamente. Pesquisando ainda a palavra convergir (com
+ vergere), descobrimos que ela significa inclinar-se conjuntamente,
ou para uma mesma direção. Se é assim, por que então competir (com +
petere), que significa buscar ou ir conjuntamente, e concorrer (com
+ currere), que significa correr conjuntamente, têm uma
interpretação tão hedionda dentro das empresas? Que mal pode haver
entre colaboradores que concorrem, ou seja, trabalham (laborare) e
correm (currere) juntos em busca de um mesmo objetivo; ou de
colaboradores que competem, ou seja, agem (operari) e procuram
(patere) juntos por um mesmo objetivo?
Na minha opinião, o problema dentro das empresas não está em alguém
correr ou buscar algo ao mesmo tempo que outro. O problema é que
tais palavras, no meio corporativo, pressupõem um único vitorioso,
um só lugar de destaque. Aí é que mora o perigo. “Colaboradores”
deveriam na empresa concorrer por objetivos comuns, mas, na verdade,
concorrem por louros pessoais. Concorrem por “com quem ficam os
créditos”, por “quem fica melhor na fita”, por “quem causa melhor
impressão no chefe”, por “quem recebe o prêmio”, por “quem fica com
o cargo”. Se a cultura da empresa é procurar “o” culpado que
esculhambou tudo, ou “o” gênio que “isoladamente” alcançou a nova
conquista, sem dúvida alguma competição e concorrência são
simplesmente palavras impronunciáveis. Mas, se a empresa preza pela
cultura de equipe, em detrimento da cultura do indivíduo, do herói,
do salvador, ou do réu, concorrer e competir são grandes caminhos
para se alcançar mais rapidamente a excelência.
É óbvio que a cultura empresarial não pode sufocar o talento
individual, o reconhecimento do talento particular. Existem
realmente algumas pessoas que se destacam, que fazem a diferença e
dão sua contribuição através de uma idéia espetacular, ousada. Isso
deve ser reconhecido. Mas o que seria de uma idéia sem sua
conseqüente realização, sem sua implantação? E até que me provem o
contrário, nunca ouvi falar de alguma idéia que tenha sido
operacionalizada, dentro das organizações, por um único indivíduo.
Ou seja, um processo que simplesmente prescindisse da cooperação dos
outros.
Voltando ao ponto, quando se valoriza a equipe e o resultado
coletivo, tudo que a empresa quer é que os colaboradores busquem e
corram juntos, numa mesma direção. Nessa hipótese, de valorização da
equipe, o risco é quase nulo, pois eles jamais estarão correndo ou
buscando o mesmo posto. Jamais estarão “lutando” (sabe-se lá com que
armas), por algo que só possa ser gozado por um. Portanto, a
concorrência ou competição será uma moeda de face única. Sem o outro
lado, nocivo, ou seja, o da luta interna, intramuros, simplesmente
pela inexistência de uma razão para tal: não estará em jogo o
indivíduo,a celebração individual.
Mas, neste cenário de concorrência interna sadia, como fica a
escalada corporativa, aquela vontade natural de indivíduos quererem
ocupar postos mais altos dentro da organização? Isso não será um
problema, desde que a empresa deixe claro que os postos serão
ocupados com base em uma avaliação individual, mas que considera a
capacidade e habilidade do indivíduo “concorrer” com o time. Ou
seja, a empresa continua a olhar para cada um, mas considera o que
cada um faz pelo todo, e não por si só.
Com franqueza, me diga se esse não seria o melhor dos mundos: todos
“lutando” para ver quem mais ajuda, mais colabora, coopera,
converge, concorre e compete. Alguma semelhança com os Três
Mosqueteiros não será mera coincidência. Vale lembrar o lema de
d'Artagnan , Atos, Aramis e Portos, que poderia ser o lema de sua
empresa: “Um por todos, e... todos por um!!!”