Modelo de negócio e estratégia, você tem?
Por Raúl Candeloro
07/01/2009
Existem 3 coisas que uma empresa tem de entender muito bem se quiser
competir com vantagem sobre seus concorrentes:
1) Seu modelo de negócio
2) A estratégia de negócio para desenvolver esse modelo
3) A execução da estratégia para colocá-la em prática
A primeira parte, o modelo de negócio, é "o quê fazemos e porquê". A
segunda, a estratégia, é "como, quando, onde, por quem e para quem
vai ser feito fazemos". A terceira, a execução, é realmente fazer
aquilo que foi decidido.
Vamos começar com o modelo de negócio. O termo tornou-se popular com
o estouro da internet nos anos 90. Naquela época, milhares de
empresas puramente virtuais estavam sendo desenvolvidas. Quem tinha
uma boa idéia não precisava nem ter uma competência especial, nem
clientes reais – tudo o que precisava era um modelo de negócios que
prometesse lucros em um determinado período de tempo.
Abertas na esperança do “dinheiro fácil”, a grande maioria dessas
empresas sucumbiu alguns anos depois, fruto da falta de
profissionalismo e de conhecimentos básicos sobre gestão. Mas o
termo (e o conceito) “modelo de negócio” ficou, sendo estudado hoje
nas faculdades de administração do mundo todo.
Um bom modelo de negócio responde a algumas perguntas de Peter
Drucker – o maior guru em gestão atualmente: “Quem é o cliente?” e
“O que é valor para o cliente”. Também responde perguntas
fundamentais que qualquer gestor deve se perguntar: “Como nós
fazemos dinheiro nesse negócio?” e “Como nós podemos oferecer valor
para o cliente com um preço apropriado?”. Em síntese, é um método
científico: você começa com uma hipótese, testa na realidade e
revisa se necessário.
É importante ressaltarmos que modelo de negócio não é a mesma coisa
que estratégia de negócio – e muita gente confunde seus conceitos.
Modelo de negócio mostra o sistema da empresa: como as peças do
quebra cabeças se unem. Mas eles geralmente não avaliam questões
macroambientais (forças influenciadoras do mercado), como a
concorrência. Mais cedo ou mais tarde, e é geralmente mais cedo,
todos os negócios enfrentam a concorrência e lidar com essa
realidade é função da estratégia.
A estratégia de negócio leva em conta toda a cadeia de valor da
empresa, começando com as compras que a empresa faz, como ela agrega
valor aos insumos que recebe e depois como vende o que produz para
os clientes. Cada departamento da empresa é analisado dentro da
cadeia de valor, para que fique claro como é que agregam valor ao
processo.
A tarefa de desenvolver uma estratégia de negócio é muito importante
para os resultados que ele poderá gerar, pois no processo de sua
criação você já pode começar a identificar possíveis falhas, ou
oportunidades desperdiçadas dentro da empresa ou do departamento.
Ao finalizá-lo, você será capaz de ter uma visão geral da empresa,
como tudo funciona, os pontos de ligação, as pessoas por trás das
atividades, a estratégia de negócio, a avaliação dos resultados
obtidos.
O modelo e a estratégia de negócio, quando desenvolvidos e usados
corretamente, força os gestores a pensar rigorosamente sobre seus
negócios.
Por exemplo, compare varejistas como Casas Bahia, Lojas Cem e
Magazine Luiza. Seus modelos de negócio são idênticos, mas as
estratégias bem diferenciadas. Basta analisar seu mix de produtos,
posicionamento, onde estão investindo, porcentagem do faturamento
que investem em propaganda, treinamento da equipe etc. Competem no
mesmo ramo, mas de forma diferente.
A lógica é simples: se todas as empresas oferecerem o mesmo produto
ou serviço, para os mesmos clientes, de uma maneira igual, nenhuma
delas irá prosperar. E é aqui que muita gente erra. Acabam tendo um
modelo de negócios igual ao do concorrente sem criar uma estratégia
de negócio diferente em termos de que mercado e clientes atingir,
que produtos/serviços oferecer, que tipo de valor criar e como
cobrar adequadamente por isso. Estratégia é exatamente isso: quando
outras empresas fazem a mesma coisa que você, como você será melhor
e será único?
Mais um exemplo: analise o Wal-Mart. Muita gente pensa que o sucesso
da rede é resultado de um modelo de negócio inovador, mas não é.
Quando Sam Walton abriu a primeira loja do Wal-Mart, no estado de
Arkansas – EUA, o modelo de negócio “lojas de desconto” já existia
há alguns anos.
Mas o Wal-Mart queria oferecer preços mais baixos do que as lojas
convencionais, cortando ao máximo seus custos. E aqui começou a
estratégia de negócio: as lojas foram criadas em galpões mais
simples; foram configuradas para receber um número alto de
compradores eficientemente; e colocaram poucas pessoas intermediando
o cliente e os produtos da loja – num esquema “cada um se serve”.
Com essas reduções, o Wal-Mart foi capaz de oferecer preços mais
baixos e ainda ganhar dinheiro.
Veja que o modelo de negócio já existia, mas foi implementado de uma
maneira diferente, criando um diferencial através da estratégia, que
era única. Desde o começo, o Wal-Mart focou suas vendas para um
público diferente: enquanto as lojas convencionais estavam
posicionadas em grandes centros urbanos, o Wal-Mart se posicionou em
regiões bem menores, onde a população tinha um alto poder de compra
(unidos a necessidade e desejo), mas estava sendo ignorada.
Note o alinhamento: o modelo era o de loja de desconto, a estratégia
era de crescer em regiões menores, sem concorrentes e a execução foi
magistral, com crescimento permanente (ganhos de escala), repasse
dos descontos dos fornecedores para os clientes (mantendo os preços
baixos) e investimentos maciços em logística e tecnologia da
informação, eliminando qualquer desperdício que pudesse comprometer
a estratégia escolhida.
Hoje, modelo de negócio e estratégia de negócio são dois dos termos
mais usados em gestão. E por um motivo: estes conceitos têm um
enorme valor prático. Muitos gestores não os aplicam por falta de
conhecimento teórico. Definição traz claridade. Quando se trata de
conceitos que são tão fundamentais para o sucesso de uma empresa,
nenhum gestor pode ficar sem estudá-los.
Raúl Candeloro (raul@vendamais.com.br) é palestrante e editor das
revistas VendaMais®, Motivação® e Liderança®, além de autor dos
livros Venda Mais, Correndo Pro Abraço e Criatividade em Vendas.
Formado em Administração de Empresas e mestre em empreendedorismo
pelo Babson College, é responsável pelo portal www.vendamais.com.br.