Metas
Por Raúl Candeloro
16/12/2008
Existem dois momentos do ano em que todo mundo pára para repensar
sua vida. Alguns de maneira mais rápida e superficial, outros de
forma mais profunda. Mas não há como fugir: tanto na virada do ano
quanto no seu aniversário, é impossível não dar um suspiro, pensar
em como o tempo passa rápido, em tudo o que aconteceu e no que ainda
está por vir. Essa também é uma boa hora de estabelecer metas e ver
se atingimos aquelas que havíamos dito que atingiríamos no ano
passado. Gosto muito de uma frase de Earl Nightingale, que diz que a
felicidade é a realização progressiva de uma meta valiosa. Vou
aproveitar para falar sobre metas, porque não acredito que exista
sucesso sem metas.
Metas sempre foram importantes, mas a comprovação mais radical disso
foi publicada por Mark McCormack, no seu livro O que Não Ensinam em
Harvard. Posso já ter falado sobre isso antes, mas sempre vale a
pena repetir. Perguntaram a todos os MBAs de Harvard que estavam se
formando: “Você tem objetivos claros e definidos, colocados no
papel, com um planejamento para atingi-los?”. 3% dos graduandos
tinham metas, haviam colocado no papel e se planejado para
alcançá-las. 13% tinham metas, mas não haviam colocado no papel. 84%
não tinham meta alguma. Dez anos depois, os pesquisadores foram
verificar como estava a vida profissional dos entrevistados. Veja
que interessante: descobriu-se que os 13% com objetivos ganhavam, em
média, duas vezes mais do que os 84% sem objetivos. Mas o mais
impressionante é que os 3% com objetivos no papel (e planejamento)
ganhavam dez vezes mais do que os outros 97% juntos.
Mesmo assim, continuamos vendo profissionais de vendas “brincando”
de metas e gerentes “brincando” de cobrá-las. Exemplo típico: outro
dia eu estava dando uma palestra em uma empresa cuja meta para o ano
é faturar X milhões. O presidente da empresa abriu o encontro
falando sobre a meta. O diretor comercial abriu minha palestra
falando sobre a meta. No meio da palestra, fiz uma dinâmica rápida
sobre estabelecimento de metas. Pedi que os vendedores fizessem uma
lista de suas metas para o ano. Todo mundo olhou como se estivesse
falando grego (em janeiro, em uma empresa-líder no Brasil no seu
ramo e ninguém tem meta?). Expliquei rapidamente como estabelecer
algumas metas e dei cinco minutos para fazerem sua lista. Ao final
do tempo, pedi que lessem a lista. Nenhum deles colocou “ajudar
minha empresa a faturar x milhões” – que era o único motivo pelo
qual estavam todos ali. Ao cobrar isso da turma, um dos vendedores
mais veteranos ainda teve o descaramento de dizer: “Mas eu coloquei
na minha lista”. “É mesmo?”, perguntei – “deixe-me ver”. E fui até
sua mesa. O papel estava em branco. O vendedor ficou vermelho,
lógico, porque não esperava que eu fosse conferir. Os amigos e
colegas tirando sarro e rindo. E o gerente dele ali, na frente.
Vendedor mal-educado é como criança mal-educada: a culpa não é da
criança, é dos pais. Mesma coisa com um vendedor.
A verdade é que as pessoas não estabelecem objetivos por várias
razões. A primeira, e talvez principal, é que não acham que seja
importante. O estudo de Harvard mostra que é com certeza. A segunda
razão é que simplesmente não sabem estabelecer metas. Algumas
pessoas têm sonhos, devaneios e fantasias e acham que são metas.
“Gostaria de ser rico”, por exemplo, não é uma meta. Uma meta é
clara, específica, objetiva, por escrito e com data. Terceiro, as
pessoas têm medo de colocar uma meta e não conseguir atingi-la
porque isso é frustrante. Então muitas pessoas preferem a
mediocridade da acomodação ao risco (e a recompensa) de ter planos e
metas. Quarto, e último, as pessoas têm medo da rejeição e do
ridículo, de passar vergonha em público por ter estabelecido uma
meta e não tê-la atingido. Mas em um ambiente positivo, com um
gerente inteligente, o não-atingimento de uma meta pode ser uma
ferramenta muito valiosa de desenvolvimento para o vendedor – basta
fazer as perguntas certas e agir corretivamente.
A verdade é que metas e objetivos nos dão um senso de propósito, de
direção. Ao atingir suas metas, você vai sentir-se mais energizado,
mais confiante, capaz de buscar desafios ainda maiores. Mais
importante de tudo: ao estabelecer suas metas, você assume o
controle da sua vida. Pense em como isto é importante: se você não
estabelecer suas metas, alguém vai estabelecê-las por você. E essa
com certeza não é a marca de um vendedor campeão.
Raúl Candeloro (raul@vendamais.com.br) é palestrante e editor das
revistas VendaMais®, Motivação® e Liderança®, além de autor dos
livros Venda Mais, Correndo Pro Abraço e Criatividade em Vendas.
Formado em Administração de Empresas e mestre em empreendedorismo
pelo Babson College, é responsável pelo portal www.vendamais.com.br.