Marketing Feliz
Por Pedro Rui Gonçalves de Sousa
11/01/2009
As estratégias de marketing evolucionaram desde os velhos modelos
transacionáveis e relacionais até um novo marketing 3d, que se
baseia no diálogo com o cliente. O contexto competitivo e complexo
com a crescente preparação dos consumidores exige uma abordagem
científica e imaginativa na busca da sustentabilidade das empresas.
Os 4 p’s totalmente orientados pela oferta esgotam-se e vão ganhando
sentido os 3 V’s: valor cliente, valor proposta e valor empresa.
A chave deste novo marketing passa assim por uma profícua
segmentação, uma perfeita consciência por parte da empresa da mais
valia que quer aportar a sua oferta de produto e serviço e pela
noção da empresa de para onde pode e deve evoluir, o posicionamento
deixa de ser um ponto para se tornar um vetor. Assim, proponho uma
análise a partir do conceito de “happyness” onde poderemos encontrar
2 P’s modernos que se seguem paralelamente, um pela perna dos
consumidores onde exploramos o seu bem estar e outro pelo lado da
empresa onde nos importa a sua sustentabilidade financeira e
cultural.
Para entender a felicidade da própria marca, temos que explorar o
conceito de brand energy que se reparte em 3 pontos fundamentais,
filosofia, dinamismo e invenção. Cada expressão da marca tem que ser
uma celebração da sua visão sobre o mundo e do papel que assume na
vida das pessoas, tem que renovar o compromisso com a novidade e
frescura e atualizar constantemente a sua oferta de produto/serviço,
acabando, de fato, por ser a criação duma personagem coerente,
evolutiva, contextualizada e de certa forma feliz.
O cliente tem que ser o elemento central onde se alinhem todos os
departamentos da empresa incluindo áreas tão díspares como
logística, recursos humanos, finanças e tecnologia. Há que esquecer
o valor financeiro de curto prazo e pensar no valor cliente de longo
prazo pois são eles o verdadeiro ativo de cada empresa. Assim,
ter-se-á que criar uma cultura própria que percorra todas as
plataformas da empresa, criando sensação de pertença, ambição e bem
estar a todos os envolvidos, não basta a marca ser feliz, procuramos
a felicidade de cada pessoa envolvida na empresa, pois afinal todos
eles devem ser parte integrante da personalidade projetada.
Criar novos espaços de mercado, ampliar os limites da procura
existente, ter um enfoque global da empresa para além dos números e
garantir a viabilidade comercial de lançamentos de novos produtos ou
serviços, são quatro regras de ouro que permitem a criação de um
“oceano azul”, esse espaço de mercado limpo onde podemos ser
proativos. Trata-se de impregnar toda a organização de uma cultura,
pró cliente, onde a observação do mercado, consumidores e contexto
competitivo pode e deve dar pistas sobre o que vai acontecer
criando-se uma visão estratégica de longo prazo permitindo fugir do
sangue competitivo do “oceano vermelho”. No entanto, poucos oceanos
azuis são eternos, pelo que as empresas devem lutar para se
reinventarem constantemente, não esquecendo mais uma vez a
importância dos clientes pois só eles não são copiáveis.
E a felicidade dos consumidores?! Claramente procuramos entrar numa
esfera de relação emocional, motor de ação dos seres humanos, Na
criação desta relação, a palavra chave é o respeito, há que
conquistar confiança, mas não basta. Temos que procurar o click da
lealdade, para tal, há que seduzir, procurar intimidade e magia,
temos que contar uma historia, partilhar sonhos, criar um projeto
comum, pensar no que podemos acrescentar à vida das pessoas e,
depois, esperar que a teoria do caos faça o seu trabalho e que as
pequenas coisas levem a felicidade. Porque não sermos os “melhores
amigos” dos nossos clientes? Porque, de fato, eles são os nossos.
Na construção desta ponte há que trabalhar duma visão macro da
floresta até à micro árvore, temos que perceber tendências e
contextos e interatuar na busca de informação, procurar entender a
essência individual dos “nossos amigos”. As ferramentas de
exploração vão, desde processos estatísticos de análise exaustiva de
dados, com diferentes variáveis na procura de correlações que
escondam pistas importantes, até processos de análise individual ou
de grupo onde se procuram os segredos dos mecanismos de ação e
percepção dos indivíduos em relação à marca e à realidade que nos
interessa, estes poderão ser ao nível de entrevistas ou dinâmicas de
grupo ou mesmo pela observação nos próprios lugares de interação com
a marca. É esta mistura de ciência analítica e perceptiva que nos
permitirá construir um caminho, uma coerência de estratégia,
posicionamento e comunicação.
Para nos relacionarmos é importante saber quem somos, o que requer
uma análise profunda da nossa estrutura, trata-se de criar o nosso
posicionamento, aquilo que assumimos como diferencial em relação à
concorrência, a nossa personalidade, maneira de vestir, falar,
comunicar, sítios de contacto que têm, necessariamente, de ser
coerentes com o nosso ponto de partida e com a direção que
pretendemos tomar. Só assim poderemos saber com quem devemos,
podemos e queremos “falar”, devendo, para tal, recorrer a uma
panóplia de variáveis, demográficas e geográficas, psicográficas e
comportamentais, assim como ao próprio ciclo de vida do cliente.
Assim, deixamos de falar em product manager para chegarmos ao
conceito de segment manager onde a preocupação deixa de ser o
produto mas antes o estudo das necessidades e da evolução do
segmento escolhido, é obrigatório percebê-lo e antecipar os seus
desejos, queremos fazê-lo feliz.
Mas para conseguirmos compatibilizar esse objetivo com a nossa
própria felicidade, teremos que perceber que clientes terão valor
para nós e como “gestioná-los” de forma a aproveitar o máximo da
relação que pretendemos construir, teremos assim que pensar em 2
fatores chaves: valor cliente e acessibilidade ao segmento. A
evolução desta relação será como que a gestão da experiência
conjunta, teremos que valorizar todo o tipo de touch points e
procurar melhorar sempre as experiências com serviços e produtos,
tendo também que ouvir com atenção a voz do consumidor de forma a
cobrir todos os possíveis gaps de expectativa que venham a ter,
pois, se queremos que os nossos clientes sejam os nossos melhores
advogados fora da empresa, teremos que começar por ser os seus
melhores advogados dentro da empresa.
Assim, a meta será oferecer ao cliente uma experiência única e
diferenciada, ajustar e superar as suas expectativas, desencadeando
o fator surpresa. Para tal, teremos que adotar uma personalidade
própria como empresa, desenvolvida e definida que nos demarque
claramente das outras empresas, criar uma cultura organizacional
100% orientada ao cliente, oferecendo propostas imaginativas e
inovadoras que aportem algo ao usuário e que permitam alcançar o
Olimpo, a felicidade do cliente, que nos dará a sua lealdade
inquebrável que, de certeza, nos deixará muito feliz.
Bibliografia:
“Lovebrands” de Kevin Roberts
“Marketing relacional, directo e interactivo” de Gómez Vieites
Revista Daemon Quest, fascículo 1 “Estrategias de Marketing y
clientes”
Revista “control” octubre 2007