Não Basta Falar
Por: Wagner Campos
05/06/2008
Ainda quando adolescente fiz cursos de inglês e espanhol. Foram
aproximadamente dois anos cada um. Não dava para considerar-me um
expert, porém sabia que se um dia precisasse ir ao exterior nos
países que exigissem a fluência nesses idiomas, não passaria fome,
conseguiria chegar ao destino desejado em uma corrida de táxi e
também não teria dificuldades em me hospedar.
Quando estamos para ingressar no mercado de trabalho ou buscamos
algo mais significativo alguém sempre nos diz que é importante
falarmos fluentemente outros idiomas. Muitas das empresas em que
atuei exigiam fluência em inglês ou espanhol. No entanto, nunca
precisei falar nada em outro idioma a não ser yes, happy hour,
tanks, la garantia soy yo ou hasta la vista.
Um dia em uma empresa de embalagens onde era responsável pela área
comercial, e que nunca exigira fluência em idiomas, “certidão de
antecedentes criminais ou tipo sanguíneo” passei por uma situação
cômica. Um dos sócios havia fechado uma negociação com uma empresa
de condimentos de origem chinesa, porém não havia fornecido detalhes
sobre a situação.
O cliente ligou para a empresa tentando confirmar o prazo de entrega
e o valor final da negociação. E o atendimento passou pela portaria,
telefonista até chegar à minha assistente que falou: “É pra você, é
gringo e não estou entendendo nada do que ele está falando”. Nada
demais, não fosse o fato de o cliente não falar bulhufas de
espanhol, inglês ou português. Até então meu maior contato com
chineses era através de momentos passados em galerias chinesas e
fast foods.
Foi uma conversa muito agradável. Eu perguntava e o cliente
respondia: “HUM”... Silêncio... Eu falava outra coisa... E novamente
“HUM”... Silêncio... De repente, o silêncio foi interrompido por uma
gargalhada do chinês. De certo ele também não estava entendendo o
que estávamos tentando fazer ou falar. No fundo eu podia ouvir
outros chineses tentando dar opiniões (não dá para expressar o tanto
que ajudaram). Enquanto eu tentava fazer mímicas ao telefone (como
se ajudasse alguma coisa), de repente ele resolveu dizer algumas
poucas palavras através das quais entramos em um acordo, sendo que
eu falava alto e pausadamente (como se ele fosse surdo). Incrível,
no final deu tudo certo. Conseguimos combinar o valor exatamente, o
dia da entrega e até a forma de pagamento. O departamento todo havia
parado de fazer suas atividades, só pra ver meu sacrifício e dar
risada às minhas custas. No final, saí pra galera, campeão.
Semanas seguintes, um italiano entrou em contato para falar sobre a
possível venda de uma máquina. Para variar, o responsável não
estava. O “Severino“ aqui foi o “poliglota” responsável mais uma
vez. Ironicamente alguns colegas começaram a sentar-se próximos de
mim para ver mais uma proeza. Faltaram apenas a pipoca e
refrigerantes. Depois de doze anos sem praticar outros idiomas
obviamente sabia que não era a pessoa ideal, mas quem não tem cão,
caça com gato, mesmo que seja manco.
Procuramos conversar em inglês, mas os termos técnicos não me
ajudavam. Em seguida, tentamos em espanhol e também não fui muito
feliz. Houve momentos em que eu começava a falar em inglês e
terminava em espanhol. No meio da conversa, entramos em um acordo.
Ele iria falar em italiano mesmo e bem pausadamente. Deu certo.
Entendi melhor que inglês e espanhol e consegui passar as
informações que ele desejava, bem como recebi as mesmas
adequadamente (pelo menos nada deu errado).
Tudo bem que freqüentemente precise interpretar alguns textos em
inglês e espanhol por causa da área de atuação e outros cursos de
pós-graduação que venho fazendo. A internet também exige um
pouquinho às vezes. A diferença é que tenho tempo e dicionários para
me darem um suporte.
Para conversarmos com estrangeiros é necessário mais que fluência do
idioma. A comunicação exige paciência e interpretação, pois sempre
há termos técnicos e situações que nos pegam de surpresa. Precisamos
saber ouvir, interpretar, ler gestos e assim por diante.
Assim como é difícil obter uma boa comunicação em português, de
forma clara e sem gerar dúvidas, o mesmo ocorrerá em outros idiomas.
É nesta hora que o jogo de cintura e calma poderão fazer a
diferença. Nos casos citados, talvez tivesse sido mais fácil eu
pedir desculpas e informar que a pessoa responsável iria entrar em
contato posteriormente. Porém, talvez por isso, também demonstraria
que nem eu, muito menos a empresa teríamos condições de manter
relacionamentos em âmbito internacional, afinal, existiria apenas
uma pessoa na organização para resolver todos os problemas?
Somar esforço, dedicação e bom senso poderão salvar negócios e
diferenciá-lo no mercado. Enquanto tiver certeza que conseguirá
atingir o objetivo não poupe esforços para alcançar suas metas com
sucesso, pois nem sempre tudo estará na ponta da língua.
Mas se falar correntemente alguns idiomas com certeza terá menos
apuros. A falta da fluência poderá não impedir a conclusão da
conversa ou negociação, mas trará muitas dificuldades. Afinal, para
bom entendedor meia palavra basta!
Prof. Wagner Campos é Palestrante e Conferencista em Vendas,
Motivação e Liderança. Diretor da True Consultoria. Administrador de
empresas e Especialista em Marketing. Possui experiência há mais de
12 anos na área tendo atuado em empresas como Cia Cervejaria Brahma,
Unibanco, Multibrás Eletrodomésticos, Bebidas Wilson e Sebrae. É
autor do Livro "Vencendo Dia a Dia" e Coordenador e Prof. dos cursos
de Marketing, Com. Exterior, Logística Empresarial e Recursos
Humanos da Universidade Paulista – UNIP e Prof. e Coordenador do
Curso de Marketing do Grupo Anhanguera Educacional. Contato:
wagner@trueconsultoria.com.br – www.trueconsultoria.com.br – F: (19)
3702.2094 – 98128.6818.