Gestão Por Competências - Metodologia de
Implantação
Por Maria Rita Gramigna
11/07/2007
A gestão por competências é um programa que se instala através de
blocos de intervenção que se sucedem de forma simultânea ou
passo-a-passo.
PRIMEIRO BLOCO: SENSIBILIZAÇÃO
Para que tenha sucesso, é fundamental obter o envolvimento e a
adesão das pessoas-chave da administração e dos postos de trabalho.
A sensibilização deste público na busca do comprometimento deve
fazer parte da estratégia inicial ao processo.
A sensibilização ocorre de formas variadas:
Promoção de reuniões de apresentação e discussão do modelo, para
prováveis adaptações à cultura da empresa
Realização de fóruns de discussão com o objetivo de detectar as
falhas do modelo vigente.
Oferta de seminários para os gestores e formadores de opinião, cujo
conteúdo esclareça objetivos, etapas, responsabilidades e resultados
esperados.
Convite à participação em palestras e em cursos externo que tratem
sobre o tema.
Uso dos veículos internos de comunicação (jornais, boletins,
revistas) para divulgar de matérias e artigos publicados na mídia.
Estímulo aos gestores para participar de grupos de discussão e de
estudo na Internet.
Envolvimento dos componentes do Mapa de Poder da empresa, como
porta-vozes da área de recursos humanos (gestão de pessoas).
O trabalho de sensibilização, quando bem estruturado facilita a
venda da idéia à direção da empresa. Na prática, quando um tema é
amplamente discutido nos corredores da empresa, passa a merecer a
atenção do grupo gestor.
Partindo-se do pressuposto de que o projeto mereceu a aprovação da
diretoria e pessoas-chave, passa-se à fase de preparação do terreno
ou coleta de dados.
Algumas ações são fundamentais neste momento:
Certificar-se das diretrizes e missões setoriais e verificar se
estão compatíveis com a missão da empresa. Caso contrário, promover
seminários ou reuniões de realinhamento.
Verificar se as unidades de negócio (postos de trabalho) têm suas
atividades descritas de forma objetiva.
Avaliar e discutir os riscos do projeto: custos, rentabilidade,
possíveis insucessos, reações, fatores restritivos.
Definir estratégias para lidar com os riscos, de forma a
minimizá-los ou eliminá-los.
Negociar responsabilidades, participação direta e apoio da direção,
clareando o papel da área de recursos humanos (gestão de pessoas),
como facilitador do processo.
SEGUNDO BLOCO: DEFINIÇÃO DE PERFIS
O próximo passo consiste em definir as competências essenciais e
básicas, necessárias a cada grupo de funções e delinear os perfis.
Estratégias mais comuns:
MAPEAMENTO DEFINIÇÃO DE PERFIS DE COMPETÊNCIAS |
VANTAGENS |
PONTO DE INSUFICIÊNCIA |
Reuniões orientadas por consultoria externa, realizada com diretores e alguns gerentes, selecionados por serem formadores de opinião e exercer influência nas diversas áreas da empresa. |
Objetividade Racionalização de tempo Imparcialidade Enriquecimento das discussões por profissional com visão imparcial |
Os profissionais externos possuem poucas informações sobre a estória social da empresa (jogos de poder, cultura, etc). Para minimizar este último fator, a empresa-cliente deve repassar o maior número possível de informações à consultoria externa. |
Reuniões orientadas por consultoria interna, com a presença de diretores e formadores de opinião. |
Conhecimento da cultura empresarial. Valorização do profissional interno. |
Se a empresa tem uma estória de planos que não obtiveram sucesso, a consultoria interna pode se sentir enfraquecida na condução do processo. É necessário capacitar os consultores internos, preparando-os para a ação. |
Workshop e Seminários, ministrados por consultoria externa ou interna, focando a parte conceitual e metodológica bem como aspectos relativos a comprometimento, responsabilidades e papéis |
Sensibilização do público-alvo de forma mais intensa. Possibilidade de colher impressões e feedback dos envolvidos no evento. Participação das pessoas com idéias e sugestões de implantação. |
Investimento financeiro maior do que nas estratégias anteriores, quando realizada por terceirizados. |
Definidos os perfis de competências é
necessário atribuir pesos, de acordo com as exigências de cada
unidade de negócios.
Este momento exige alto comprometimento e participação de
profissionais internos, aqueles que detém informações sobre a
empresa.
No caso do trabalho ser conduzido por consultoria externa, sua
atuação resume-se a facilitar o processo através da
disponibilização de metodologia específica, instrumentalizar a
equipe e evitar direcionar ou influenciar as escolhas. O
resultado deve refletir o retrato da empresa e não o da
consultoria.
TERCEIRO BLOCO: AVALIAÇÃO DE POTENCIAL E FORMAÇÃO DO BANCO DE
TALENTOS
Neste bloco, a metodologia prevê entrevistas, diagnósticos e
seminários de identificação de potenciais, os quais resultam no
BIT – Banco de Identificação de Talentos.
O Banco de Talentos permite:
Identificar, a partir do perfil estabelecido pela empresa, as
pessoas que estão dentro da média, abaixo e acima das
expectativas.
Informar o “gap” (o que a empresa espera e o que a pessoa
apresenta naquele momento).
Desenhar um plano individual de capacitação por competências,
acarretando em considerável redução de custos.
Fornecer feedback sobre o potencial individual em tempo record.
Tomar decisões relativas a rodízios, promoções, formação de
grupos de sucessão, aconselhamento, remanejamentos.
Preparar as pessoas para a avaliação do desempenho.
QUARTO BLOCO: MONTAGEM DO PLANO INDIVIDUAL DE CAPACITAÇÃO POR
COMPETÊNCIAS E AÇÕES DE DESENVOLVIMENTO
A filosofia do modelo de competências tem como âncora a crença
no potencial ilimitado de desenvolvimento do ser humano.
Os dados obtidos na base de informações permitem a distribuição
das pessoas em quatro grupos distintos:
LEGENDA
T = TALENTOS: alto potencial e desempenho correspondente ao
esperado.
FT = FUTUROS TALENTOS: alto potencial e desempenho abaixo do
esperado.
M = MANTENEDORES: potencial abaixo do esperado e bom desempenho.
A = ÁREA CRÍTICA: baixo potencial e mau desempenho
Para cada grupo de pessoas as intervenções variam e têm
objetivos diferentes:
PC – Área crítica
Recomenda-se estudar criteriosamente cada caso, buscando dados e
referências sobre o profissional em questão.
Descobrir os motivos do baixo desempenho, verificar se as
pessoas se adequam em outras funções disponíveis na empresa,
fornecer feedback sobre a atual situação e aconselhar, são
comportamentos gerenciais que antecedem a qualquer decisão de
desligamento. Pelo fato das pessoas apresentarem baixo
desempenho, não significa impossibilidade de seu aproveitamento
em outra área.
M - Mantenedores
Uma organização precisa de pessoas mantenedoras. Com sua
dedicação, conseguem obter um bom desempenho, mesmo com um
potencial médio.
Para este grupo, é necessário elaborar programas de
desenvolvimento que favoreçam a ampliação e o domínio de
competências e um acompanhamento de resultados mais de perto.
Aconselhamento, feedback e estímulos são bem vindos neste grupo.
FT – Futuros talentos
Este é um grupo especial. Possuidores de alto potencial,
necessitam de um diagnóstico específico, que retrate os motivos
de seu desempenho abaixo do esperado. Geralmente relacionam-se
com:
Desmotivação.
Clima de trabalho contraproducente.
Gerência pouco estimuladora.
Locação em funções incompatíveis com o potencial .
Trabalho pouco desafiador.
Falta de reconhecimento por parte da empresa.
De posse do diagnóstico, o consultor interno e o gerente
imediato definem de que forma tratar cada caso:
Aconselhamento
Oferta de ações de desenvolvimento.
Mentoramento
Negociação de metas de melhoria do desempenho, seguidas de
acompanhamento direto.
Outras estratégias que envolvam os profissionais em seu processo
de desenvolvimento e valorizem seu potencial.
T – Talentos
A grande riqueza das organizações está nos seus talentos. Para
mantê-los, faz-se necessário aproveitar seus potenciais.
Este grupo precisa ser cuidado com muita atenção. Nele podem
estar os futuros sucessores para cargos de maior
responsabilidade. Geralmente os talentos se sentem valorizados
quando:
São chamado para participar de projetos desafiadores.
Têm suas responsabilidades ampliadas.
Percebem que a organização está investindo em sua carreira.
Participam de treinamentos.
Recebem reconhecimento público pelas suas contribuições.
Têm a oportunidade de trabalhar em equipe, como coordenadores ou
líderes.
É imprescindível que as empresas mantenham um programa de
desenvolvimento específico para o grupo de talentos, de forma a
retê-los.
QUINTO BLOCO – A GESTÃO DO DESEMPENHO
Este é o bloco que fecha um ciclo do programa de competências.
Após mapear e definir perfis, verificar performances e montar o
banco de talentos e capacitar é chegado o momento de avaliar
resultados.
A gestão do desempenho prevê a mensuração de resultados através
de ferramentas e metodologias específicas.
É através da avaliação das performances individuais que o
gerente verifica a evolução ou involução no desempenho das
pessoas de sua equipe, obtendo uma nova base de informações.
A verificação do desempenho mantém o foco nas competências
definidas nos perfis, agregadas a atitudes e comportamentos que
só podem ser observadas no cotidiano de trabalho. As unidades de
medida devem conter indicadores que facilitem a verificação.
Uma das estratégias usadas no momento é o feedback em redes.
O QUE EVITAR NESTE BLOCO:
Atrelar a avaliação do desempenho a promoções ou vantagens
financeiras.
Adotar a avaliação do desempenho como mais uma norma da empresa,
deixando de utilizar os dados coletados para alavancar o
desenvolvimento das pessoas.
Implantar o processo sem preparar a empresa para a cultura do
feedback.
Importante lembrar: todo o processo deve ser ancorado por um bom
plano de carreira e remuneração.
Maria Rita Gramigna é Mestre em Criatividade Total Aplicada pela
Universidade de Santiago de Compostela (Espanha). Graduada em
Pedagogia pela Universidade Federal de Minas Gerais e
pós-graduada em Administração de Recursos Humanos pela UNA –
União de Negócios e Administração (MG). Atua no Mapeamento de
Competências, contatos estratégicos com clientes, capacitação
gerencial e treinamento da equipe de consultores da MRG
Consultoria e Treinamento Empresarial.